Promessa do atletismo vem do IFSul
Estudante do câmpus Charqueadas, que hoje brilha nas pistas de corrida, deu seus primeiros passos no atletismo nas aulas de educação física
Curtidas, comentários, compartilhamentos. Enquanto fazíamos a cobertura da etapa regional dos Jogos dos Institutos Federais (JIFs), ficamos surpresos com a quantidade de respostas positivas em fotos e informações sobre a participação do estudante Pedro Henrique Corrêa de Castro, do câmpus Charqueadas, na competição. Queríamos, então, saber: por que, afinal, o Pedro, já carinhosamente apelidado de “Pedrinho Bolt”, é assim tão querido no instituto? Estava batido o martelo: precisávamos contar a história desse aluno que, além de campeão sul-regional de atletismo nos 100m e nos 200m, também é ouro em carisma e simpatia.
Falamos em carisma e simpatia? Pois pode acrescentar “humildade” nessa conta. Questionado se já imaginava, na época em que começou a treinar atletismo no IFSul, que poderia ser um grande nome do esporte, Pedro não hesitou: “Nãããão, jamais! Até agora não acredito!”, disse ele, contornando toda a nossa expectativa de ouvir um relato já treinado, típico de quem já estaria habituado a responder essa pergunta.
"Se eu quisesse melhorar e ganhar alguma coisa, ou eu treinava ou eu largava. E isso me inspirou a começar a treinar forte" - Pedro Henrique Corrêa de Castro
Mesmo com as incríveis marcas de 11”19 nos 100m e de 23”05 nos 200m – para você ter uma ideia, as marcas do Usain Bolt são de 9”58 e de 19”19, respectivamente –, Pedro contou que chegou a achar seus tempos muito baixos para a corrida e que não valeria a pena investir no atletismo. Referindo-se às suas primeiras experiências no atletismo, quando, em 2014, ficou em 3º lugar nos 100m dos Jogos Intercâmpus, ele disparou: “pensei que era só mais uma corrida, sei lá, então foquei em outra coisa. Nunca pensei que chegaria a esse ponto de passar na Sogipa e ganhar os JIFs e os Jergs [Jogos Escolares do Rio Grande do Sul]”, lembra o estudante.
Embora ele não acreditasse, seus professores já percebiam o potencial do futuro atleta. Foi em 2014, ano em que o Pedro ingressou no curso de mecatrônica no IFSul, que ele teve o seu primeiro contato com o atletismo. “No primeiro ano do curso, nós trabalhamos com os alunos o atletismo e a ginástica artística, e eu lembro que nas primeiras atividades ele se destacou muito rápido: já tinha facilidade para correr e era sempre o que ganhava as provas de corrida rápida adaptadas aqui no câmpus”, conta a professora de educação física do câmpus Charqueadas, Louize Leitzke, responsável pela disciplina nos dois primeiros anos de Pedro no instituto.
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Queda e ascensão
Mesmo com o incentivo desde o início, foi depois de uma queda, no sentido literal do termo, que Pedro decidiu investir para valer nos treinos. Em 2015, na etapa sul-brasileira dos JIFs, o estudante enfrentou pela primeira vez um contratempo no esporte: ao tentar ultrapassar outro competidor, ele caiu e ficou impossibilitado de competir no restante das provas. “Eu caí porque queria empatar com o cara, mas mesmo assim eu não ia vencer a corrida. Daí eu vi que se eu quisesse melhorar e ganhar alguma coisa, ou eu treinava ou eu largava. E isso me inspirou a começar a treinar forte”, diz o atleta.
Da experiência negativa, então, o estudante decidiu virar o jogo. Ouvindo seus professores, amigos e familiares, que, desde seu primeiro ano no IFSul, já lhe diziam para procurar um grande clube para desenvolver a sua carreira, Pedro resolveu ceder. Após um teste bem-sucedido na Sogipa, uma das principais referências no atletismo gaúcho, veio a boa notícia: ele tinha sido aprovado no teste para começar a treinar pelo clube. “Ele começou a treinar na Sogipa agora em agosto, então acreditamos que isso ainda vai gerar muitos resultados no próximo ano. Vamos chegar muito fortes na final dos 100m e 200m dos JIFs de 2017”, conta o professor de educação física do câmpus Charqueadas, Sandro Barros, responsável pelo agendamento do teste de Pedro na entidade.
A preocupação natural da família, no entanto, adiou um pouco o início dos treinos no clube. “Por causa da distância - eu moro em São Jerônimo e estudo em Charqueadas - e, como Porto Alegre está muito violenta, meu pai não queria que eu fosse”, lembra o estudante. Ele recorda, no entanto, como convenceu a família: “eu corri a final dos Jergs e pedi para o meu pai ir me ver correndo, porque ele nunca tinha visto. Daí eu fiquei em segundo nos 100m e deu para ver nitidamente que foi porque eu não tinha treinamento nenhum”.
“Ele é muito querido, porque tem um potencial enorme e é muito humilde. As pessoas realmente querem que ele vença porque é um merecedor” - professora Louize Leitzke
Mas Pedro não foi o único a insistir. Ninguém menos que o diretor técnico da Confederação Brasileira de Atletismo, José Haroldo Loureiro Gomes, também conhecido como Arataca, teve participação importante: “O Arataca conversou com ele, falou do teste, explicou que eu fui bem e convenceu meu pai. Daí eu comecei a treinar. Na outra semana, meu pai veio junto, falou com o professor e desde então estou treinando”, conta Pedro, relembrando o carinho e a importante participação dos pais na sua carreira. Desde agosto, o estudante treina na Sogipa todo final de semana e segue a sua rotina semanal de treinos em uma pista de corrida da sua cidade.
Promessa do atletismo
“Pelo tempo que ele faz, pela idade que ele tem, pela determinação que demonstra e por ainda estar ganhando peso e altura, dá para dizer, sim, que ele é uma promessa do atletismo”, atestou a professora Louize sobre o estudante quando perguntamos se ela via no Pedro uma promessa do atletismo. E quem também acredita na capacidade do estudante para o esporte é o professor Sandro. Parafraseando um reconhecido treinador de atletismo, Leonardo Ribas, o professor diz: “nós temos dois tipos de atletas: aquele que tem potencial, que se esforça e que vai ter um resultado. E tem o atleta com potencial, mas malandro. Eu enxergo o Pedro como o primeiro perfil: um cara com potencial e muito dedicado”.
Se o potencial do atleta para o atletismo já é notável para os professores, isso não significa que o estudante receba um tratamento diferenciado durante as aulas de educação física. “Nós temos uma avaliação no IF bem rigorosa quanto às atividades: os alunos devem participar de todas as atividades que a gente pede, tanto teóricas quanto práticas, então ele se compromete com o que os outros também devem se comprometer”, destaca a professora Louize. Fora da aula, no entanto, não falta incentivo dos docentes. “Quando olhamos as corridas dele, ou em competições ou em vídeos mesmo, buscamos orientá-lo em alguns quesitos, como a largada, por exemplo”, diz a docente. Ao contar que chegou a ir a São Jerônimo para auxiliar no treino do estudante na pista onde está habituado a correr, Louize conta que sempre mantém um vínculo de contato com Pedro para passar informações e exercícios, além de revisar a sua apostila de treinamento. Sandro, que é coordenador de um projeto de atletismo no câmpus, também destaca que dentro do projeto oferece toda a orientação necessária para a evolução do estudante.
Dedicação aos estudos
Há quem possa pensar que, por ser uma promessa do atletismo, Pedro não consiga gerenciar todas as suas outras atividades como aluno. Grande engano. Além de dar show na pista, ele também é comprometido com os estudos. Prova disso é a recente classificação de um projeto do qual participa para um dos maiores eventos de tecnologia do país, a Mostratec. Aprovado em 3º lugar na Mocitec, evento do câmpus Charqueadas que classifica para a Mostratec, o projeto é um sistema autônomo contra o Aedes Aegypti, que consiste em um protótipo concebido para vibrar água parada e eliminar o mosquito da dengue.
Carisma e popularidade
"Ele é muito respeitador, ajuda os colegas, faz todas as atividades esportivas com a gente e não reprova... É um guri que estuda muito e precisa ser valorizado” - professor Sandro Barros
Se você chegou até essa parte do texto, já deve estar impaciente: mas por que, afinal, o Pedro é tão querido em sua comunidade? Perguntamos à professora Louize a que ela atribui tanto carinho recebido pelo Pedro durante os JIFs. Sem poupar elogios, Louize citou vários motivos. E foram tantos que precisamos resumir, mas, entre eles, esses são alguns: “Ele tem uma boa vontade enorme para ajudar todo mundo, é compenetrado, inteligente, de fácil acesso. Ele tem muitos amigos e é fiel a todos eles. Nós nunca vemos ele querer o mal de ninguém: ele só quer fazer o melhor dele, evoluir e, dessa maneira, quer que todos evoluam”, enumera a docente. Mas não acaba por aí. Ela ainda complementa: “Ele é muito querido, porque tem um potencial enorme e é muito humilde. As pessoas realmente querem que ele vença porque é um merecedor”.
O carisma do estudante, no entanto, ultrapassa os limites do IFSul. Sandro conta que, na semana anterior aos JIFs, eles já participaram de uma entrevista na rádio da cidade. “Acho que isso tudo é pelo caráter dele, pela forma como ele lida com as pessoas. Ele é parceiro de todo mundo e tem uma namorada, a Sheron, que é superparceira dele também. Ele é muito respeitador, ajuda os colegas, faz todas as atividades esportivas com a gente e não reprova... É um guri que estuda muito e precisa ser valorizado”, comenta. O professor ainda lembra de um costume do estudante que, consideradas as crenças religiosas de cada um, atesta o respeito e os valores que Pedro carrega: “Ele é daqueles que, em viagem, se a gente passa por um cemitério em beira de estrada, ele faz sinal da cruz”, fala, admirado, sobre o gesto do aluno.
E para ele, Pedro, o que justifica tanto carinho? Modesto, a resposta não poderia ser diferente: “Sei lá, acho que sou muito amigo do pessoal. Também porque, do câmpus, ninguém nunca tinha chegado na final dos Jergs e eu consegui ganhar os Jergs. Nos JIFs, o pessoal não passava da primeira fase, e eu consegui ganhar e ir para o nacional. Mas é mais pela amizade mesmo”, conclui o estudante, mostrando, sem querer, o porquê de ter tantos amigos e de conquistar admiradores por onde passa.
Agora, o próximo desafio de Pedro será a etapa nacional dos JIFs, em Brasília, no início de outubro. Mas, com tamanho carisma, não vai faltar torcida para ele. Independentemente do seu resultado, nós já começamos a torcer. E você?
Por Greice Gomes
Foto 1: Comunicação Social do IFSC. Fotos 2 e 3: Arquivo pessoal
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