Carta de Cascavel: Os Institutos Federais do Sul chacoalham o guizo
Documento foi assinado pelos dirigentes e pelas dirigentes dos Institutos Federais do Sul do País
Reunidos na cidade de Cascavel, Estado do Paraná, nos dias 21, 22 e 23 de junho de 2022, os dirigentes e as dirigentes, reitores e reitoras, pró-reitores e pró-reitoras, diretores e diretoras de câmpus dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia situados na Região Sul do Brasil, trocaram reflexões e ações, diálogos e afetos, em torno do tema: povos e identidades na educação profissional e tecnológica, na 3ª edição da Reditec Sul.
A diversidade de povos e identidades está na mais intrínseca constituição dos institutos federais. Seus espaços educacionais são ornados por um imenso e belo mosaico de rostos, falares, valores e atitudes característicos dos territórios do Sul. Gente que faz brotar, crescer e frutificar os sonhos e ideais plantados entre sangue, suor e lágrimas desde os litorais sulinos, em meio a pinheirais, até as terras alagadas para gerar luz na costa oeste do Paraná, até o oeste de Santa Catarina e os extremos ocidentais do Rio Grande do Sul. Pelos olhos e corações de nossos ancestrais indígenas, europeus, quilombolas, pescadores e pescadoras artesanais, faxinalenses, ciganos e ciganas, cipozeiros e cipozeiras, asiáticos e muitos outros povos e etnias emergiu sempre o desejo de uma vida feliz, digna e justa nestas terras de onde têm brotado as nossas vidas.
Como parte indissociável dessa realidade, é papel dos dirigentes e das dirigentes dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, herdeiros e herdeiras do compromisso de gerar, pela educação, pessoas mais felizes e integralmente realizadas neste chão que nos sustenta e nutre, olhar com terna atenção e engajada solidariedade para os contextos imediatos ou amplos que constituem, no tempo que se chama hoje, a vida do povo a quem são chamados a servir por meio das atividades finalísticas das respectivas instituições.
Dilaceram ainda nossos corações e mentes as mais de 670 mil vidas perdidas no Brasil nos tempos difíceis e cruéis da pandemia de covid-19, mais de 100 mil delas habitantes dos estados do Sul do Brasil. A dor e o lamento inconsoláveis são aplacados pelo protagonismo que os institutos federais tiveram, desde o início da pandemia, na defesa incondicional da vida, na busca de alternativas para a garantia do direito à educação, na construção emergencial de novas formas de assistência aos estudantes, e no subsídio ao trabalho das equipes de saúde por meio da produção e doação de insumos, sobretudo álcool em gel, e equipamentos de proteção individual. Nosso trabalho, somado ao de todas(os) aquelas(es) que consideram a vida o maior bem a ser defendido, mostrou que educação, ciência e tecnologia são indispensáveis todos os dias, mas, singularmente, quando as crises se agravam e quando a desigualdade socioeconômica é cruelmente exposta e acentuada.
Assim, neste momento de encontro e congraçamento no fértil chão do oeste paranaense, a confraternização e a partilha de experiências e projetos comprometidos com a transformação de vidas nesta promissora porção do território brasileiro, os dirigentes e as dirigentes ora reunidos não podem deixar de expressar a dor de verem as instituições sob sua gestão mais uma vez ameaçadas por bloqueios e cortes orçamentários. Não reconhecer que a promoção da educação de excelência aos que dela mais necessitam não se constitui em gasto, mas em investimento na vida dos povos, é matar de inanição os sonhos que nascem de suas identidades historicamente construídas e socialmente partilhadas. É fazer secar pela raiz instituições de ensino que, como árvores frondosas, poderiam oferecer, por meio do conhecimento, o alento da sombra, a ternura das flores, a consistência dos frutos e a esperança de novas sementes àqueles que foram tecidos da mesma terra em que estas foram plantadas.
Ao tratar dos povos e identidades na educação profissional é indispensável recordar com insistência de que a educação sempre foi e continuará sendo instrumento para que, na beleza das diversidades, cada brasileiro e cada brasileira tenha acesso, com equidade, ao que de melhor este país, com suas terras, suas águas e sua gente, é capaz de oferecer a si e às próximas gerações. Se a identidade nos faz olhar para o que nos singulariza em cada território, não pode ser, de forma alguma, motivo para a alienação em relação ao que ocorre em outras partes do Brasil. Nesse sentido, os que pisam estas terras do sul, tantas vezes banhadas pelo sangue daqueles(as) que desejavam chão, pão e liberdade, são plenamente irmãos de muitos outros que, em outros rincões do país, lutaram e continuam lutando pelos ideais mais sublimes e inegociáveis da democracia.
Concluídos os trabalhos destes dias, e nutridos pelos desafios e esperanças trazidos dos memoráveis encontros de Lages-SC (2018) e Frederico Westphalen-RS (2019), o retorno dos dirigentes e das dirigentes a cada uma das instituições, é permeado pela alegria do reencontro após dois anos em que o coronavírus fez-se obstáculo intransponível à realização da Reditec Sul e pelo sentido de fortalecimento dos sonhos e das esperanças na educação de excelência por que tanto prezam. Volta-se com o mesmo compromisso, mas com o entusiasmo revigorado para se continuar lutando por essa causa da qual depende o futuro, a soberania e a liberdade de toda a brava gente brasileira.
Cascavel, 23 de junho de 2022
Subscrevem a presente carta, os dirigentes e as dirigentes das seguintes instituições:
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-riograndense
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