Lugar de mulher é no IFSul: alunas do instituto destacam-se em programa de TV da UFRGS
No programa “Lugar de Mulher”, estudantes dos câmpus Charqueadas e Pelotas contaram suas experiências em cursos nas áreas de ciências e tecnologia
Se você já ouviu – ou até mesmo falou – que certas áreas da ciência não são para mulheres, temos uma notícia para você: lugar de mulher é na ciência, na engenharia, na pesquisa e onde mais ela quiser. Para quebrar esses estereótipos que ainda afastam mulheres, especialmente adolescentes, de carreiras científicas, a UFRGS TV produz há quatro anos o programa Lugar de Mulher. E, neste ano, alunas do IFSul foram protagonistas de quatro programas veiculados pela produtora universitária. As estudantes são dos câmpus Charqueadas e Pelotas.
Por ainda haver uma proporção menor de meninas escolhendo as áreas das ciências, principalmente as exatas e tecnológicas, o diretor da UFRGS TV, Fernando Favaretto, comenta que o programa busca mostrar que “não há áreas próprias ou impróprias para homens ou mulheres, pois a escolha de uma carreira pode e deve ser feita levando em conta vontades, desejos e afinidades ligadas a qualquer exercício profissional”.
A representatividade feminina é um dos fatores que motivam a realização do programa, criado em 2014 em parceria com o projeto Meninas na Ciência, do Instituto de Física da UFRGS. A coordenadora do projeto de extensão e professora do departamento de Física da universidade, Carolina Brito, destaca que um dos motivos que afastam mulheres de áreas da ciência e tecnologia é a falta do que ela chama de “modelos”.
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“As mulheres não seguem estas carreiras porque não se enxergam como engenheiras, físicas, matemáticas, etc. Ainda é comum pensar que isto é ‘coisa de homem’”, pontua. Por causa desse pensamento ainda disseminado socialmente, a pesquisadora comenta que o Lugar de Mulher surge com o objetivo de apresentar às adolescentes alguns modelos de meninas que vivem esta realidade e que gostam muito do que fazem. “Os depoimentos das meninas trazem essa realidade: elas se mostram realizadas pelo que escolheram, estão em sua maioria fazendo projetos nas suas áreas e têm amigos, vão ao cinema, enfim, fazem tarefas normais de uma adolescente”, comenta.
Mudanças que se refletem em gerações
Em três anos de realização do Lugar de Mulher, 30 programas foram produzidos. No primeiro ano do projeto, Carolina conta que foram entrevistadas mulheres mais experientes e com carreiras já bem estabelecidas. Em 2015, o foco foram as estudantes de graduação, mestrado ou doutorado. As estudantes do ensino médio, técnico e tecnológico foram as escolhidas para protagonizar os programas deste ano.
As diferenças entre as entrevistadas, no entanto, não se restringiram apenas à experiência e à faixa etária. Carolina diz ter ficado impressionada com a mudança de postura entre as mulheres de cada geração. “As mulheres da primeira temporada praticamente não tinham percebido o preconceito ao longo de suas carreiras e não mencionavam o machismo. Já as meninas de 2015 e 2016 são completamente engajadas! Elas acreditam que lugar de mulher é onde elas queiram estar, elas falam abertamente sobre machismo, preconceitos, sobre o papel da mulher”, destaca a coordenadora, ressaltando que a equipe de entrevista manteve o mesmo tipo de perguntas ao longo de toda a série.
“Há meninas que trabalhavam com software de reconhecimento de padrão, outras que estavam instalando redes elétricas em comunidades carentes, coisas que me fizeram pensar que existe um reduto de ensino de altíssimo nível no Brasil!” - Carolina Brito, coordenadora do projeto, sobre os institutos federais
Para Fernando, o resultado do trabalho desenvolvido no programa tem mostrado meninas e mulheres “conscientes do seu direito de exercer qualquer profissão, de lutar por qualquer espaço, de construir qualquer carreira, de elaborar perguntas e de procurar respostas”.
IFSul como reduto de conhecimento técnico-científico
Quando questionado sobre a forma como a programa chegou aos nomes das estudantes do IFSul entrevistadas, o diretor da UFRGS TV respondeu que a produção do Lugar de Mulher faz uma pesquisa sobre meninas que tenham recebido prêmios ou que tenham se destacado em Salões de Iniciação Científica, em Olimpíadas de Matemática, Física ou Astronomia, em eventos nos quais sua pesquisa e sua produção foram reconhecidas.
Após conhecer mais de perto a produção científica e tecnológica realizada dentro dos institutos, a coordenadora do projeto de extensão também destacou as qualidades dessas instituições. Ela afirma que, para além da questão de gênero, os trabalhos desenvolvidos nos IFs são muito interessantes. “Há meninas que trabalhavam com software de reconhecimento de padrão, outras que estavam instalando redes elétricas em comunidades carentes, coisas que me fizeram pensar que existe um reduto de ensino de altíssimo nível no Brasil!”, parabeniza.
Quer conhecer um pouco mais sobre os depoimentos trazidos pelas estudantes do IFSul nos programas? Além de acessar os vídeos, confira a seguir as quatro histórias apresentadas pelas alunas.
- Lugar de mulher é no LAB
O laboratório é lugar de mulher, sim! E isso a gente pode conferir no relato da Gabriela Alves, técnica em Química e aluna do curso de Engenharia Química do câmpus Pelotas. Para ela, “a química, além de ser uma ciência, é uma arte da transformação”, e o interesse pela área surgiu já no ensino fundamental.
Atualmente, a aluna de engenharia faz parte de um projeto de pesquisa voltado ao público celíaco e com intolerância à lactose. O trabalho em desenvolvimento visa à elaboração de um suplemento alimentar sem glúten, à base de arroz e antioxidantes naturais, utilizando frutas e valorizando os produtores da região.
Ao se posicionar sobre a relação entre o curso e o mercado de trabalho, Gabriela ainda afirma que “o lugar da mulher é onde ela quiser e onde ela se sentir bem, seja na ciência, no chão de fábrica, em casa, na política... e isso é uma coisa que precisa ser desmistificada. É importante que todo mundo possa trabalhar em diferentes áreas e trocar experiências. Para construir um pensamento crítico, é bom conviver com pessoas diferentes”.
- Lugar de mulher é na programação
A Gabriella Selbach é técnica em informática e concluiu o curso esse ano no câmpus Charqueadas. Durante o tempo em que foi aluna do curso, ela desenvolveu dois projetos, um aplicativo reconhecedor de objetos para deficientes visuais e um site voltado ao público infantil, baseado na criação de histórias.
A programação, que Gabriella descreve como “uma área dentro da informática, que tem vários campos, desde a criação de um site à criação de um aplicativo, de um ar-condicionado...”, é também um hobby para a aluna, que aconselha outras meninas a integrarem os cursos das áreas exatas. “Vá, se jogue mesmo! É uma área muito legal. Uma área onde eu vi que tu podes mudar muitas coisas, tu podes mudar o mundo e ajudar muitas pessoas”, incentiva.
- Lugar de mulher é desenvolvendo projetos
Ao pensar em seguir carreira na engenharia, a Carolina Heiden, que estuda no câmpus Pelotas, escolheu a Eletrotécnica para iniciar o caminho na área das exatas. Ela optou pelo curso já sabendo que iria trabalhar com equipamentos, motores e geradores, e ao entender como acontece a distribuição, manutenção, transmissão e geração de energia elétrica, desde o princípio até a chegada nas nossas residências, só lhe deu a certeza da escolha certa.
O gosto pelo curso hoje assume novas proporções e se estende à prática. A Carolina faz parte de um projeto de extensão do câmpus que trabalha no desenvolvimento da iluminação de uma escola na cidade. “A gente vai fazer o projeto todo novo, desde a planta baixa à iluminação. É muito legal, a gente consegue viver na prática exatamente com o que podemos trabalhar daqui para frente”, relata a aluna.
Ao falar sobre o mercado de trabalho, a aluna ainda comenta as diferenças salariais e a preferência por pessoas do sexo masculino, mas acrescenta que as meninas devem acreditar na sua capacidade e fazer desse espaço um lugar habitável. “Elas têm que ver a Eletrotécnica como uma opção também. Não existe mais essa de meninos ou meninas, aqui elas têm capacidade tanto quanto eles”.
- Lugar de mulher é na mecatrônica
A Vitória Regina da Rosa, aluna de Mecatrônica no câmpus Charqueadas, define o curso como “uma mistura de mecânica e eletrônica”, e diz ter percebido que a parte que mais fazia os olhos dela brilharem era a da mecânica. Nessa área, ela aprendeu a usar máquinas de grande porte, como as fresas e os tornos, e principalmente, pode ver as produções finalizadas. “Na mecânica tu vês o resultado, que é uma peça, que é alguma coisa que tu produziste”, acrescenta a aluna.
Com o conhecimento da área, a Vitória logo se inseriu no mundo dos projetos, e diferentemente do esperado pela maior parte das meninas, a recepção foi de acolhimento e incentivo. Segundo a aluna de mecatrônica, “a maioria das meninas tem receio de entrar nessa área por se sentir excluída. E não, eu vi que os meninos foram muito acolhedores, os professores também; eles tentam incentivar bastante as meninas aqui”.
Por Greice Gomes e Priscila Vasconcellos
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